A crise terá provocado um prejuízo de 8 mil milhões de euros no mercado das flores e plantas ornamentais na Europa e só um «plano de ação ambicioso, com medidas de apoio excecionais e temporárias a todos os subsetores e operadores do setor» pode ajudar a superar o impacto brutal com que se confrontam milhares de empresas. Entrevista com Josep Pagès, secretário-geral da ENA – European Nurserystock Association, uma das 9 entidades subscritoras da carta enviada ao Comissário Europeu da Agricultura.
Qual é o impacto económico da crise do Covid-19 no setor das flores e plantas na Europa?
Várias organizações europeias (ENA, UNION FLEURS, AREFLH, COPA·COGECA) estão a recolher dados junto dos seus associados sobre o impacto sofrido nos meses de Março e Abril. Uma estimativa preliminar indica os prejuízos na ordem dos 6 a 8 mil milhões de euros. É um impacto brutal com que se confrontam milhares de empresas do setor das flores e plantas ornamentais na UE, que no seu conjunto representam um valor de mercado de 48 mil milhões de euros anuais e empregam 760.000 pessoas.
Os consumidores europeus estão a retomar a compra de flores e plantas ornamentais?
O mercado europeu está a recuperar lentamente com a reabertura gradual de lojas e de outros canais de venda na maioria dos Estado-membros da UE, mas a situação está longe de estar normalizada e os prejuízos acumulados (redução das vendas e custos de destruição das plantas/flores) no nosso setor (por produtores, grossistas, leilões, importadores e exportadores, floristas e garden centers) nos meses de Março e Abril são enormes e nunca serão recuperados, sobretudo porque ocorreram durante o pico da campanha, período em que se concretizam 50 a 80% das vendas e das receitas.
Que medidas de apoio pedem à UE para ajudar o setor a sobreviver à crise?
Alguns Estados-membros já acionaram medidas de âmbito nacional para apoiar o setor. Embora sejam ótimas notícias para as empresas desses países, nós defendemos que deve ser implementado um plano de apoio, amplo e harmonizado, à escala da UE, que garanta a equidade entre países e a integridade do mercado único europeu, evitando distorções de mercado e assegurando a viabilidade da produção e das empresas em toda a UE.
Continuamos a apelar para que sejam adotadas medidas de apoio excecionais e temporárias a todos os subsetores e operadores do setor, tal como defendemos numa carta enviada a 10 de Abril ao Comissário Europeu da Agricultura, Janusz Wojciechowski, subscrita por 50 eurodeputados. Vemos com bons olhos o sinal político dado pela Comissão Europeia ao implementar o Regulamento 2020/594 de 4 de maio, no âmbito do Artigo 222 do Regulamento da Organização Comum de Mercado. No entanto, consideramos que estas medidas não terão um impacto significativo nem tangível na resposta às necessidades urgentes do nosso setor, que tem características específicas, distintas de outros produtos agrícolas. Em suma, estas medidas não são suficientes, nem eficazes para responder à atual situação.
Pedimos à UE medidas concretas de financiamento que compensem os prejuízos que os produtores e operadores sofreram desde o início da crise, que garantam a liquidez dos negócios, e, em geral, um plano de ação mais ambicioso a nível europeu para apoiar este setor. Este plano de ação ambicioso não deve ser condicionado pelas atuais limitações do orçamento comunitário invocadas pelo Comissário (no âmbito do Artigo 222 da OCM e/ou de quaisquer outros regulamentos).